Mal conservadas e até em ruínas,
vilas de trabalhadores são lembranças de uma São Paulo de rios limpos e
compras com caderneta.
A Vila Maria Zélia,
construída no começo do século pelo industrial Jorge Street ao lado de sua
fábrica de tecidos, considerada revolucionária pelo que oferecia aos
trabalhadores e tombada pelo Condephaat em 1992, é um símbolo do descaso
com que a cidade vem tratando suas históricas vilas operárias,
principalmente as que já foram tombadas.
É o caso, também, da Vila
Economizadora, na Luz (centro da cidade), que assiste calada à sua
deterioração. Tombada desde 1990, não conta, por exemplo, com uma
associação de moradores. Da mesma maneira estão também outras, como a Vila
Itororó, construída no começo do século passado na Liberdade, que trazia a
primeira casa de São Paulo a contar com piscina, hoje um cortiço, e a Vila
Suíça, no Glicério, ambas na região central. A exceção é a Vila dos
Ingleses, na Luz, que subsiste inalterada pela mão forte de seu
proprietário e pelo fato de ter virado centro comercial.
São Paulo teve em seu auge pelo menos 40
vilas operárias. Hoje restam poucas.
Há projetos de utilização das
construções para centros culturais e museus. Iniciativas semelhantes deram
muito certo na Itália e na Argentina, por exemplo.
As vilas operárias surgiram
no final do século 19, começo do 20, em todas as grandes cidades do novo
mundo que começavam seu processo tardio de industrialização, como Buenos
Aires e Cidade do México. Em São Paulo, eram geralmente construídas ao
lado de uma fábrica e abrigavam imigrantes, principalmente italianos.
Principais
Vilas
VILA ECONOMIZADORA – A COMERCIAL
Construção: 1908 a
1915. Criador: médico e escritor Cláudio de Souza. Arquiteto:
provavelmente o empreiteiro italiano Antonio Bocchini. Característica
principal: vila operária não-ligada a uma fábrica; surgiu de consórcio de
empresários, que alugavam as casas e aplicavam o dinheiro num fundo de
previdência privada. Curiosidade: Garoto (1915-1955), que ganharia fama
como violonista do Bando da Lua, que acompanhou Carmem Miranda, nasceu
nela.
VILA MARIA ZÉLIA – A REVOLUCIONÁRIA
Construção: 1911 a
1916. Criador empresário: Jorge Street (1863-1939). Arquiteto:
supostamente o francês Pedaurrieux, de quem se tem pouca
informação. Característica: principal primeira vila operária do Brasil
que, além de casas, oferecia creche, comércio cooperativo, hospital,
igreja, restaurante, serviço de assistência social, médica, odontológica e
farmacêutica. Curiosidades: leva o nome de uma filha do industrial, que
morreu aos 16 anos; o filme “O Corintiano” (1967) foi rodado ali; a
fábrica ao lado virou presídio político entre 1936 e 1937, durante a
ditadura Vargas; Olavo Hansen (1937-1970), então dirigente do clandestino
Partido Operário Revolucionário Trotskista (Port), foi preso numa
manifestação na vila em 1970.
VILA DOS INGLESES – A BURGUESA
Construção: 1915 a
1917. Criador e arquiteto: o chileno Eduardi de Aguiar
D'Andrada. Característica principal: construída para abrigar
engenheiros ingleses que vieram fazer a Estação da Luz e a Estrada de
Ferro Santos-Jundiaí, por isso mesmo muito acima dos padrões das vilas
operárias da época. Curiosidades: em 1924, suas casas foram ocupadas
por moradores da região cujas residências foram destruídas durante a
Revolta Tenentista; também conhecida como Vila Inglesa.
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