A igreja
mais importante da cidade,
que passou décadas
malconservada, vai comemorar
um ano de sua reabertura após
uma restauração que durou
29 meses e custou 19 milhões
de reais.
No dia 8 de julho de 1999, os
paulistanos levaram um susto
e tanto. A Catedral da Sé,
um dos maiores símbolos da
cidade, amanheceu
interditada. Com vitrais
quebrados, portas estragadas
e paredes repletas de
rachaduras e vazamentos, a
igreja encontrava-se em
estado avançado de
deterioração. Por causa
das infiltrações,
fragmentos do teto corriam o
risco de desabar a qualquer
momento. Trincas enormes
eram vistas nas colunas de
granito e no chão de mármore.
Ninhos de urubu infestavam o
telhado e um cheiro de mofo
espalhava-se pelos cantos.
Diante da situação, a
prefeitura não viu outra saída
a não ser lacrar o templo
encravado no marco zero da
capital, como faz com os
cortiços caindo aos pedaços.
Uma fita amarela foi
colocada na escadaria
principal para impedir que
os visitantes se
aproximassem de um dos mais
conhecidos cartões-postais
da metrópole.
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O templo neogótico, que
readquiriu todo o seu
esplendor, emoldurou
acontecimentos que marcaram
época. Dentro dela ou
diante de suas escadarias
houve manifestações
importantes, dos comícios
contra a ditadura de Getúlio
Vargas, nos anos 40, ao
grande ato público que
desfechou a campanha das
diretas já, com a presença
de 300 000 pessoas, em 1984.
Foi também na Sé que o então
arcebispo dom Paulo Evaristo
Arns celebrou, em 1975, ao
lado do rabino Henry Sobel,
do reverendo Jaime Wright e
de dom Hélder Câmara, o
culto ecumênico em memória
do jornalista Vladimir
Herzog, assassinado pelo
regime militar.
Catorze torres seguindo o estilo
neogótico com o tamanho
variando de 12 a 19 metros
de altura e uma cripta,
situada abaixo do altar-mor
são as grandes belezas. A
cripta com 619 metros
quadrados ornamentados com
belas colunas, guarda os
restos mortais de vários
bispos de São Paulo, do
cacique Tibiriçá e do
regente Feijó. É uma jóia
arquitetônica. A Capela do
Santíssimo Sacramento
encontrava-se em estado de
degradação. Feita de
bronze, ônix e mármore de
Carrara, ela reúne uma série
de baixos-relevos com
motivos sacros, que por décadas
ficaram escondidos pela
sujeira. Vale a pena
apreciar a cor caramelada do
mármore do altar e as
esculturas que compõem o pórtico.
Passear pela catedral – com
seus 111 metros de
comprimento por 46 de
largura e 5.700 metros
quadrados de área construída
– exige certo fôlego. A
restauração não foi
acompanhada de um estudo
histórico, e, assim, muitos
de seus detalhes passam
despercebidos. Quando se
caminha pela igreja, é
preciso não esquecer de
olhar para cima. No alto das
colunas, há adaptações
surpreendentes do estilo gótico.
Tatus, tucanos, lagartos e
frutas tropicais substituem
os dragões e morcegos
europeus.
Mesmo sem muita informação
disponível, ir à Sé não
deixa de ser um passeio
bonito e barato. Nunca a
catedral esteve tão
resplandecente. A estação
de metrô é um convite a
deixar o carro na garagem.
Se a região continua
perigosa? Bem, a Praça da Sé
não virou exatamente um
paraíso de segurança, mas
já está bem melhor que
alguns anos atrás. Conhecer
o vizinho edifício do
Tribunal de Justiça, aberto
à visitação, é outro
programa interessante. Sem
contar que, a poucos minutos
de caminhada, surgem o Pátio
do Colégio, o Largo São
Francisco, igrejas antigas,
como a do Carmo, e um comércio
típico do centro, formado,
por exemplo, por sebos com
ótimos achados.