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MATÉRIAS SOBRE SÃO PAULO


A ressurreição da Sé comemora um ano

Jorge Tadeu da Silva 

A igreja mais importante da cidade, que passou décadas malconservada, vai comemorar um ano de sua reabertura após uma restauração que durou 29 meses e custou 19 milhões de reais.

No dia 8 de julho de 1999, os paulistanos levaram um susto e tanto. A Catedral da Sé, um dos maiores símbolos da cidade, amanheceu interditada. Com vitrais quebrados, portas estragadas e paredes repletas de rachaduras e vazamentos, a igreja encontrava-se em estado avançado de deterioração. Por causa das infiltrações, fragmentos do teto corriam o risco de desabar a qualquer momento. Trincas enormes eram vistas nas colunas de granito e no chão de mármore. Ninhos de urubu infestavam o telhado e um cheiro de mofo espalhava-se pelos cantos. Diante da situação, a prefeitura não viu outra saída a não ser lacrar o templo encravado no marco zero da capital, como faz com os cortiços caindo aos pedaços. Uma fita amarela foi colocada na escadaria principal para impedir que os visitantes se aproximassem de um dos mais conhecidos cartões-postais da metrópole. 

O templo neogótico, que readquiriu todo o seu esplendor, emoldurou acontecimentos que marcaram época. Dentro dela ou diante de suas escadarias houve manifestações importantes, dos comícios contra a ditadura de Getúlio Vargas, nos anos 40, ao grande ato público que desfechou a campanha das diretas já, com a presença de 300 000 pessoas, em 1984. Foi também na Sé que o então arcebispo dom Paulo Evaristo Arns celebrou, em 1975, ao lado do rabino Henry Sobel, do reverendo Jaime Wright e de dom Hélder Câmara, o culto ecumênico em memória do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelo regime militar.

Catorze torres seguindo o estilo neogótico com o tamanho variando de 12 a 19 metros de altura e uma cripta, situada abaixo do altar-mor são as grandes belezas. A cripta com 619 metros quadrados ornamentados com belas colunas, guarda os restos mortais de vários bispos de São Paulo, do cacique Tibiriçá e do regente Feijó. É uma jóia arquitetônica. A Capela do Santíssimo Sacramento encontrava-se em estado de degradação. Feita de bronze, ônix e mármore de Carrara, ela reúne uma série de baixos-relevos com motivos sacros, que por décadas ficaram escondidos pela sujeira. Vale a pena apreciar a cor caramelada do mármore do altar e as esculturas que compõem o pórtico. 

Passear pela catedral – com seus 111 metros de comprimento por 46 de largura e 5.700 metros quadrados de área construída – exige certo fôlego. A restauração não foi acompanhada de um estudo histórico, e, assim, muitos de seus detalhes passam despercebidos. Quando se caminha pela igreja, é preciso não esquecer de olhar para cima. No alto das colunas, há adaptações surpreendentes do estilo gótico. Tatus, tucanos, lagartos e frutas tropicais substituem os dragões e morcegos europeus.

Mesmo sem muita informação disponível, ir à Sé não deixa de ser um passeio bonito e barato. Nunca a catedral esteve tão resplandecente. A estação de metrô é um convite a deixar o carro na garagem. Se a região continua perigosa? Bem, a Praça da Sé não virou exatamente um paraíso de segurança, mas já está bem melhor que alguns anos atrás. Conhecer o vizinho edifício do Tribunal de Justiça, aberto à visitação, é outro programa interessante. Sem contar que, a poucos minutos de caminhada, surgem o Pátio do Colégio, o Largo São Francisco, igrejas antigas, como a do Carmo, e um comércio típico do centro, formado, por exemplo, por sebos com ótimos achados.

Agosto / 2003
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