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MATÉRIAS SOBRE SÃO PAULO


Rua 25 de Março
para todo tipo de comprador

Jorge Tadeu da Silva

Fazer compras nas redondezas da Rua 25 de Março é uma aventura. A região é barulhenta, tem trânsito caótico e as calçadas, estreitas demais, abrigam cerca de 1.500 camelôs. Diariamente, passam por lá 400 mil pessoas, o suficiente para lotar cinco estádios do Morumbi. Mas, por incrível que pareça, vale a pena encarar a turba. Lugar procurado por profissionais da decoração, da moda e dos enfeites, que enfrentam regularmente os percalços do lugar para comprar – barato – artigos originais para suas produções. Ali há muito mais que confusão e bugigangas. Entre as 3 mil lojas, não são poucos os achados que fazem a festa desses consumidores mais exigentes.

A região começou a se desenvolver como área comercial com a chegada dos primeiros imigrantes árabes à Rua Florêncio de Abreu, no início do século passado. Chamada de Rua de Baixo ou Baixa de São Bento, a 25 separava a cidade alta da várzea. Seu traçado original margeava o rio Tamanduateí, pelo qual eram trazidas as mercadorias. Não foi por outro motivo que uma de suas vias de acesso recebeu o nome de Ladeira Porto Geral. No fim da Revolução de 1930, estabeleceu-se como um grande centro de atacado de tecidos, vestuário e armarinhos. Com o passar dos anos, os negócios foram se diversificando até chegarem os produtos chineses, coreanos e paraguaios. Em 2001, com a moda oriental em alta, surgiram casas especializadas em artigos indianos e tailandeses.

Os clientes sentem-se como se estivessem num labirinto. As lojas ficam espremidas pelas barracas dos marreteiros e encobertas por placas e cartazes. É difícil ter a exata noção do endereço em que se está entrando. Para aumentar a confusão, a decoração das casas é muito parecida. As paredes são brancas, o chão é de ladrilho e a iluminação, fria como a dos escritórios. Exposta em prateleiras, a mercadoria está sempre à mão do consumidor. O cliente pega o que quer e paga direto no caixa. As lojas se multiplicam também na vertical. No número 641 da 25 de Março, por exemplo, um prédio de dez andares abriga mais de 60 negócios: do 1º ao 5º andar, bijuterias; do 6º ao 9º, artesanato peruano; e no 10º, prata.

Entrar em cada porta, enveredar por corredores e vasculhar prateleiras é a melhor forma de comprar. O grande volume de vendas e a dificuldade de ampliar as instalações (é praticamente impossível topar com um imóvel vizinho vago) fazem com que esses pequenos empresários possuam vários endereços na mesma rua. Assim, também evitam a instalação de mais concorrentes. A Armarinhos Fernando, uma espécie de babilônia comercial com 90 mil produtos, tem três, o maior com 2.800 metros quadrados de área.

Doces, brinquedos, roupas e artigos para casa em geral ficam dispostos em gôndolas. Na entrada, 23 caixas registradoras fecham a conta dos 4 mil compradores diários. O português Fernando dos Santos Esquerdo, dono da Armarinhos Fernando, personifica o sucesso da 25 de Março. Esquerdo chegou ao Brasil em 1954, aos 14 anos, e começou a trabalhar como faxineiro em um armarinho da 25. Depois de 22 anos, abriu a própria loja. Em 1996, já com suas cinco filiais, o ex-faxineiro – mesmo sem ser nenhuma Parmalat – virou patrocinador da equipe de futebol da Portuguesa e estampou o nome de sua empresa na camisa oficial do time.

 

Maio / 2003
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