Fazer compras nas redondezas da
Rua 25 de Março é uma aventura. A região é barulhenta, tem trânsito
caótico e as calçadas, estreitas demais, abrigam cerca de 1.500 camelôs.
Diariamente, passam por lá 400 mil pessoas, o suficiente para lotar cinco
estádios do Morumbi. Mas, por incrível que pareça, vale a pena encarar a
turba. Lugar procurado por profissionais da decoração, da moda e dos
enfeites, que enfrentam regularmente os percalços do lugar para comprar –
barato – artigos originais para suas produções. Ali há muito mais que
confusão e bugigangas. Entre as 3 mil lojas, não são poucos os achados que
fazem a festa desses consumidores mais exigentes.
A região começou a se
desenvolver como área comercial com a chegada dos primeiros imigrantes
árabes à Rua Florêncio de Abreu, no início do século passado. Chamada de
Rua de Baixo ou Baixa de São Bento, a 25 separava a cidade alta da várzea.
Seu traçado original margeava o rio Tamanduateí, pelo qual eram trazidas
as mercadorias. Não foi por outro motivo que uma de suas vias de acesso
recebeu o nome de Ladeira Porto Geral. No fim da Revolução de 1930,
estabeleceu-se como um grande centro de atacado de tecidos, vestuário e
armarinhos. Com o passar dos anos, os negócios foram se diversificando até
chegarem os produtos chineses, coreanos e paraguaios. Em 2001, com a moda
oriental em alta, surgiram casas especializadas em artigos indianos e
tailandeses.
Os clientes sentem-se como se estivessem
num labirinto. As lojas ficam espremidas pelas barracas dos marreteiros e
encobertas por placas e cartazes. É difícil ter a exata noção do endereço
em que se está entrando. Para aumentar a confusão, a decoração das casas é
muito parecida. As paredes são brancas, o chão é de ladrilho e a
iluminação, fria como a dos escritórios. Exposta em prateleiras, a
mercadoria está sempre à mão do consumidor. O cliente pega o que quer e
paga direto no caixa. As lojas se multiplicam também na vertical. No
número 641 da 25 de Março, por exemplo, um prédio de dez andares abriga
mais de 60 negócios: do 1º ao 5º andar, bijuterias; do 6º ao 9º,
artesanato peruano; e no 10º, prata.
Entrar em cada porta, enveredar por
corredores e vasculhar prateleiras é a melhor forma de comprar. O grande
volume de vendas e a dificuldade de ampliar as instalações (é praticamente
impossível topar com um imóvel vizinho vago) fazem com que esses pequenos
empresários possuam vários endereços na mesma rua. Assim, também evitam a
instalação de mais concorrentes. A Armarinhos Fernando, uma espécie de
babilônia comercial com 90 mil produtos, tem três, o maior com 2.800
metros quadrados de área.
Doces, brinquedos, roupas e artigos para
casa em geral ficam dispostos em gôndolas. Na entrada, 23 caixas
registradoras fecham a conta dos 4 mil compradores diários. O português
Fernando dos Santos Esquerdo, dono da Armarinhos Fernando, personifica o
sucesso da 25 de Março. Esquerdo chegou ao Brasil em 1954, aos 14 anos, e
começou a trabalhar como faxineiro em um armarinho da 25. Depois de 22
anos, abriu a própria loja. Em 1996, já com suas cinco filiais, o
ex-faxineiro – mesmo sem ser nenhuma Parmalat – virou patrocinador da
equipe de futebol da Portuguesa e estampou o nome de sua empresa na camisa
oficial do time.