A história da
cachaça brasileira
Jorge Tadeu
da Silva
Como não poderia
deixar de ser, a nossa “cachacinha”, não escapa de uma controvérsia.
Há quem diga que o nome “cachaça” tenha origem na Espanha, pois era
usada uma aguardente para amaciar a carne do porco Cachaço e da
porca Cachaça. Outros dizem que o nome veio dos colonizadores
espanhóis aqui da América do Sul, que, como os portugueses, também
extraíram a aguardente, no início como subproduto da rapadura, e
deram o nome de Cachaza e daí a adaptação para o português
Cachaça.
Cachaça é a
aguardente do mel de cana-de-açúcar (ou da borra de mel de açúcar)
destilada após a fermentação alcoólica. A cachaça acompanha a
história do Brasil. Quem nunca ouviu sobre a “tradição” de dar um
gole pro santo? Quando os portugueses começaram a migrar para o
Brasil, trouxeram também a bagaceira (destilado do bagaço da
uva).
O processo de
fabricação da bebida foi desenvolvido na colônia, que passou a
utilizar a cana-de-açúcar em lugar da uva. A “descoberta” da cachaça
aconteceu por acaso; um engenho da capitania de São Vicente teria
descoberto o vinho de cana-de-açúcar (garapa azeda).
Os senhores de engenho começam a servi-la aos escravos,
com o nome de cagaça.
Então, quando foi destilada, tornou-se
cachaça. Os consumidores da bebida eram basicamente os africanos,
que a usavam para amenizar o “banzo”, a saudade da terra natal.
Também foram os primeiros a usar a cachaça como tranqüilizante dos
males do corpo e do espírito. O sucesso foi tão grande que até se
tornou moeda de troca por escravos entre os portugueses.
A bebida começou
a tomar o lugar da bagaceira: significava, para os portugueses, o
início da liberdade do Brasil. Por isso, proibiram sua fabricação em
1649. Como tal medida não deu resultado, a cachaça foi taxada. Os
impostos foram tão bem-vindos que ajudaram na recuperação de Lisboa
depois do terremoto de 1756.
O hábito do
consumo da cachaça pela classe alta demorou muito. Os aristocratas,
envolvidos pelo charme europeu, rejeitavam o produto nacional. A
partir da Semana de Arte Moderna (1922), iniciou-se um culto à
brasilidade. A cachaça acompanhou o ritmo do samba. Hoje, muitas
marcas já conquistam consumidores internacionais.
Dicas para desvendar
a boa pinga
É o nariz que
vai, antes de mais nada, identificar a cachaça de qualidade.
Reconhecendo milhares de odores, ele tem mais capacidade
interpretativa que a língua, que só percebe os quatro sabores
básicos - ácido, amargo, salgado e doce. Com o olfato, saberemos se
a aguardente foi destilada com cuidado, se as partes iniciais e
finais (cabeça e cauda) foram eliminadas, com aproveitamento apenas
do “coração”. Os bons aromas podem lembrar frutas secas, seiva de
madeira, tabaco, etc.
Em contato com a
língua e suas papilas gustativas, a caninha envelhecida exibe maciez
e equilíbrio alcoólico e, sobretudo, desvenda sua “alma” através do
retrogosto, aquela sensação provocada pelo ar que volta dos pulmões
logo após o gole, “bate” no bulbo olfativo localizado abaixo dos
olhos e sai pelo nariz. É a prova final da qualidade da cachaça -
esta você pode beber sem susto.
Você
sabia?
A cidade de Porto
Alegre (RS) tem os maiores consumidores de cachaça no país, segundo
o IBGE: 436 mililitros per
capita/ano
Onde
encontrar uma boa cachaça em São Paulo
A cachaça está
presente em todos os bares, restaurantes e casas noturnas de São
Paulo, mas há lugares que são especialistas no assunto. Aqui vão
duas dicas:
Cachaçaria
Paulista
São mais de 220
tipos de cachaça de todos os lugares do Brasil. A mineira Boazinha e
a Na Bunda, do interior paulista, são as prediletas. O público
universitário curte MPB e rock ao vivo e pode provar a tradicional
porção de provolone à milanesa. R. Mourato Coelho, 593, Vila
Madalena, região sudoeste, Tel.: (11) 815-4756. 100 lugares. Terça a
quinta.: 18h às 2h. Sexta e sábado: 18h às 5h. Consumo mínimo: R$
3,50. Couvert. artístico. (sexta e sábado): R$ 2,50. Preços: R$ 2
(cerveja Bavária) e R$ 6 (uísque Johnnie Walker Red Label). Acesso
para deficiente, fumantes, ar condicionado, mesas ao ar livre,
aceita reservas, música ao vivo.
Água
Doce Cachaçaria
Franquia que
preserva o estilo rústico da matriz de Tupã, no interior do Estado.
São servidas comidas típicas mineiras, como tutu e feijão tropeiro,
mas a picanha na chapa com mandioca é o prato que tem maior saída. A
casa só trabalha com cachaças artesanais de Minas e São Paulo. R.
Tapajós, 141, Centro, Guarulhos (Grande São Paulo), Tel.: (11)
208-5659. 130 lugares. Terça e quarta: 18h às 24h. Quinta: 18h à 1h.
Sexta: 17h30 à 1h. Sábado: 19h à 1h. Preços: R$ 2,50 (cerveja
Bohemia) e R$ 8 (uísque Chivas Regal). / Fumantes, mesas ao ar
livre, aceita reservas.
Receita Clássica
da Caipirinha
- 1 limão; - 1 colher de sopa de açúcar; - 1 dose de
Cachaça; - 4 cubos de gelo picados.
Como
Fazer:
Coloque o limão
e o açúcar em um copo especial para batidas, amasse bem, de
preferência com socador de madeira. Adicione os cubos de gelo e
complete com cachaça. Coloque um copo do mesmo tamanho de cabeça
para baixo no copo da mistura e, segurando com as duas mãos, agite
bem. Este mesmo processo pode ser feito utilizando uma coqueteleira.
Melhores
variações conhecidas de cocktails com Cachaça: |
Uva, Abacaxi, Morango ou Maracujá |
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