Poeta
brasileiro. Um dos nomes mais importantes do modernismo, considerado um
clássico da literatura brasileira no século XX. Foi membro da ABL.
Um dos maiores poetas do modernismo, Manuel Bandeira é também
considerado um clássico da literatura brasileira no século XX. Sua
obra caracterizou-se pela simplicidade alcançada graças a um esforço
de redução às essências, quer no plano temático, quer no da
linguagem.
Manuel
Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu em Recife PE em 19 de abril de
1886. Ainda jovem, mudou-se para o Rio de Janeiro RJ, concluindo estudos
no Colégio Pedro II.
Mais tarde abandonou o curso de arquitetura por
motivo de doença (tuberculose) e em 1913 internou-se no sanatório de Clavadel, na Suíça, onde conheceu o poeta francês Paul Éluard. De
volta ao Brasil iniciou em periódicos sua produção literária.
Conforme confessou o próprio poeta, sua vida não teve grandes
acontecimentos. Foi professor de literatura hispano-americana na
Faculdade Nacional de Filosofia e elegeu-se para a Academia Brasileira
de Letras em 1940.
Sua
vida revela-se em sua obra, onde temas universais como o amor e a morte
são tratados no nível da experiência diária, embora alcançando uma
generalidade que ultrapassa de muito a condição biográfica. De seu
primeiro livro, A cinza das horas (1917), em que se evidenciam as raízes
tradicionais de sua cultura, até sua última obra poética, Estrela da
tarde (1963), Bandeira revelou grande capacidade de adaptar-se aos mais
diferentes estilos e formas, percorrendo uma trajetória que vai da
musicalidade difusa do simbolismo a experiências de poesia espacial e
concreta.
Pode
ser visto, assim, como um virtuose da arte poética, e sua poesia
percorreu um longo processo de amadurecimento, cujo início coincide com
suas primeiras experiências como modernista. Isto, entretanto, não
bastaria para classificá-lo como um grande poeta, tal como é
considerado unanimemente pela crítica. Sua poesia ultrapassou a condição
de mestria na técnica do verso e ganhou uma dimensão mais profunda
pela unidade temática que pode ser surpreendida na diversidade de
formas.
Característico
dessa unidade profunda é o humor poético de Bandeira. Embora tido como
precursor pelas inovações surpreendentes de seu livro Carnaval (1919),
no qual figura o poema "Os sapos", uma das pedras de toque do
movimento modernista, o humor de Bandeira só se desenvolveu plenamente
em seu quarto livro, Libertinagem (1930). Nessa obra, que consolidou seu
prestígio, tornou-se visível a influência da Semana da Arte Moderna
de 1922, com suas experiências libertárias.
Modernista,
Bandeira declarou-se contrário ao "lirismo funcionário público",
preferindo "o lirismo difícil e pungente dos bêbedos / o lirismo
dos clowns de Shakespeare". Mas esse "lirismo pungente" não
seria mais revelado só através de versos românticos, como em A cinza
das horas. A intervenção da inteligência crítica, colidindo com a
sensibilidade profundamente romântica do poeta, produziria o humor.
Este marcaria seus versos com a auto-ironia, como em "Pneumotórax",
em contraposição ao desencanto romântico.
O
humor manifestou-se também como fruto da observação do cotidiano,
transfigurando-o, como em "As três mulheres do sabonete Araxá",
ou por meio de alusões literárias e inversões. Cite-se, por exemplo,
o verso "a primeira vez que vi Teresa", alusão irônica ao célebre
"a vez primeira que fitei Teresa" de Castro Alves. A inversão
mais profunda surge em "Momento num café", onde alguém se
descobre diante de um cortejo em que o corpo passa "liberto para
sempre da alma extinta". O que lembra outra inversão num poema erótico
em que "os corpos se entendem, mas as almas não".
Além
dos livros de poesia citados, Bandeira deixou ainda os seguintes: Ritmo
dissoluto, publicado pela primeira vez em Poesias (1924); Estrela da
manhã (1936); Lira dos cinqüent'anos, publicado pela primeira vez em
Poesias completas (1940); Belo belo, que surgiu na edição de 1948 das
Poesias completas; Mafuá do malungo (1948) e Opus 10 (1952).
Foi
como poeta que Manuel Bandeira conquistou sua posição de relevo na
literatura brasileira, mas seria injusto relegar a plano secundário a
prosa límpida de seus ensaios, crônicas e memórias. Nesse campo,
publicou obras como De poetas e de poesias (1954), Intinerário de Pasárgada
(1957), Flauta de papel (1957) e Andorinha, andorinha (1966).
Deve-se
destacar igualmente seu trabalho como escritor didático e organizador
de numerosas antologias, trabalho que pode ser ilustrado por títulos
como Noções de história da literatura (1940), Apresentação da
poesia brasileira (1946), Literatura hispano-americana (1949) e Gonçalves
Dias (1952).
O poeta de amplos recursos foi também um exímio tradutor de poesia. Além
da bela coletânea dos seus Poemas traduzidos (1945), construiu textos
notáveis ao passar para o português obras de Schiller (Maria Stuart,
1955), Shakespeare (Macbeth, 1961) e Brecht (O círculo de giz
caucasiano, 1963), entre muitos outros autores. Manuel Bandeira morreu
no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968. Suas poesias completas
haviam sido reunidas, pouco antes, em Estrela da vida inteira (1966).
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