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MENU POEMAS E POESIAS |
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Carlos
Drummond de Andrade |
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Quero
que todos os dias do ano
Todos os dias da vida
De meia em meia hora
De 5 em 5 minutos
Me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te
dizer: Eu te amo,
Creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
E no seguinte,
Como sabê-lo?
Quero
que me repitas até a exaustão
Que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
Pois ao dizer: Eu te amo,
Desmentes
Apagas
Teu amor por mim.
Exijo
de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
Isto sempre, isto cada vez mais.
Quero
ser amado por e em tua palavra
Nem sei de outra maneira a não ser esta
De reconhecer o Dom amoroso,
A perfeita maneira de saber-se amado:
Amor na raiz da palavra
E na emissão,
Amor
Saltando da língua nacional,
Amor
Feito som
Vibração espacial.
No
momento em que não me dizes:
Eu te amo,
Inexoravelmentesei
Que dexaste de amar-me,
Que nunca me amaste antes.
Se
não disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamoamo,
Verdade fulminante que acabas de dentranhar,
Eu me precipito no caos,
Essa coleção de objetos de não-amor.
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A
Noite Dissolve os Homens
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A
noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tampouco os rumores
Que outrora me perturbavam
A noite desceu. Nas casas,
Nas ruas onde se combate,
Nos campos desfalecidos,
A noite espalhou o medo
E a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda,
Sem esperança... Os suspiros
Acusam a presença negra
Que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
Na noite. A noite é mortal,
Completa, sem reticências,
A noite dissolve os homens,
Diz que á inútil sofrer,
A noite dissolve as pátrias,
Apagou os almirantes
Cintilantes nas ruas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão |
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O
último dia do ano
Não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
E novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
Farás viagens e tantas celebrações
De aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
E coral,
Que
o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
Os irreparáveis uivos
Do lobo, na solidão.
O
último dia do tempo
Não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
Onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
Uma mulher e seu pé,
Um corpo e sua memória,
Um olho e seu brilho,
Uma voz e seu eco.
E quem sabe até se Deus...
Recebe
com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu
pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa, já se expirou, outras espreitam a morte,
Mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
E de copo na mão
Esperas amanhecer.
O
recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
O recurso da bola colorida,
O recurso de Kant e da poesia,
Todos eles... e nenhum resolve.
Surge
a manhã de um novo ano.
As
coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
Lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
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Que
é que vou dizer a você ?
Não estudei ainda o código
De amor.
Inventar, não posso.
Falar, não sei.
Balbuciar, não ouso.
Fico de olhos baixos
Espiando, no chão, a formiga.
Você sentada na cadeira de palhinha.
Se ao menos você ficasse aí nessa posição
Perfeitamente imóvel, como está,
Uns quinze anos ( só isso )
Então eu diria:
Eu te amo
Por enquanto sou apenas o menino
Diante da mulher que não percebe nada.
Será que você não entende, será que você é burra ?
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Há
muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci. Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias
(
tão leves ) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu caminho, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A
falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias:
Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.
É
quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.
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BIOGRAFIA |
Carlos
Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de
outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou
na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de
Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação
mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor
como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais
do incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em
farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores
A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação
do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934,
transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de
Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a
trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e
se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da
Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros
de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas
(1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam
revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta
da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente,
contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se
detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida
de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico
e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente
satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte
construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com
o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do
corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José
(1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se
ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva,
participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na
luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida
como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros,
indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês,
italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi
seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura
brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em
prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac
(Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons
dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive,
1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje
de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse
Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de
Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu
comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de
Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de
sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade. |
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Postado
em agosto de 2005 |
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