Pelé Eterno
(Brasil,
2003)
Jorge Tadeu da Silva
É
preciso ser completamente
imune à paixão do futebol
- coisa rara nesta nação
de chuteiras - para não
experimentar nenhuma emoção
diante das imagens preciosas
do documentário Pelé
Eterno.
A coleção de gols recolhida
pela pesquisa de cinco anos
em dezenas de arquivos em
todo o mundo balança o coração
mais renitente -
especialmente quando mostra
imagens das Copas do Mundo
de 1958 e 1970.
O
gênio de Pelé, no
arranque, no drible e na
finalização de seus 1.281
gols é visto numa fantástica
amostragem. Nesses lances
está a mais pura expressão
do futebol-arte, cuja mais
completa tradução foi
sempre o único rei que o
Brasil aceita sem maiores
contestações.
Nesse túnel do tempo montado
pelo filme, dirigido por Aníbal
Massaini Neto, acompanha-se
a ascensão do garoto
franzino de 17 anos que, em
1958, desmaiou logo após um
gol decisivo para a primeira
Copa vencida pelo Brasil,
dando início a uma carreira
vitoriosa de 21 anos, 59
campeonatos, entre outras glórias.
Amparada na verdadeira mágica
desse artista da bola, Pelé
Eterno praticamente dispensa
os efeitos especiais -
exceto para a recriação do
antológico gol da rua
Javari, no estádio do
Juventus, na Mooca
paulistana, em 1959.
Como deste gol não existe uma única
imagem, o remédio foi a
reconstituição digital
que, infelizmente, só serve
como ilustração, porque
fica muito parecido com um
videogame. Muito aquém,
portanto, do que deve ter
acontecido em campo 46 anos
atrás.
Desde o início um projeto
incontestavelmente celebratório,
Pelé Eterno esquiva-se das
polêmicas com a mesma ginga
com que o próprio dono da
camisa 10 (no Santos e na
seleção) desviava-se dos
zagueiros adversários.
Assim, os muitos namoros com
futuras celebridades - como
a apresentadora Xuxa - e a
luta de uma de suas filhas
extraconjugais, Sandra
Regina, para reconhecimento
de paternidade desfilam
rapidamente num segmento
quase imperceptível.
Recebem o mesmo tratamento
"light" o
envolvimento de Pelé com
negócios problemáticos,
como aqueles realizados com
o ex-sócio Pepe Gordo, bem
como as suas efêmeras ligações
com a política.
Certamente ninguém vai ver o
filme à procura de detalhes
sobre as atividades
extra-futebolísticas de Pelé.
No máximo, se poderia ter
evitado um ou outro momento
piegas - como o que mostra o
jogador chorando ao rever
algumas velhas imagens.
Estes aspectos negativos são
contrabalançados pelos fantásticos
gols do Rei.
Ficha Técnica:
Pelé Eterno
(Pelé Eterno, Brasil, 2003)
Elenco: Pelé, Tostão, Gérson,
Zagallo
Diretor: Aníbal Massaíni
Gênero: Documentário
Distribuidora: UIP, Cinearte
Produtora(s): Anima Produções
Duração: 120 min.
Classificação: livre
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