Pronto
desde 2002 e já lançado na Europa, o curioso documentário “Moro no
Brasil”, do finlandês radicado no país Mika Kaurismaki, procura mapear
as origens do mais brasileiro dos ritmos, o samba. No final, ele não
segue o objetivo à risca, optando por mostrar a impressionante
diversidade musical brasileira.
Kaurismaki
inicia sua trajetória em Águas Belas (PE), onde encontra as raízes
indígenas do batuque sambístico entre os “fulni-ôs”. Dessa origem
indígena, que muitos brasileiros mesmo devem desconhecer, o diretor
prossegue a viagem musical em Caruaru, onde apresenta as bandas de
pífanos e os forrozeiros, como Silvério Pessoa e Jacinto Silva (que
morreu pouco depois das filmagens).
Em
Recife, encontra a matriz negra do samba nos maracatus, dos tipos rural
ou nação, este último, fonte da impactante bateria das modernas escolas
de samba.
Antônio Nóbrega introduz o frevo e Zé Neguinho do Coco o ritmo que está
no seu nome, o coco. A dupla Caju e Castanha desfia a maestria frenética
da embolada, garantindo estar nela a raiz de gêneros como o rap. Caju é
outra baixa do filme, morrendo pouco depois de seu depoimento e sendo
substituído na dupla por seu filho, Cajuzinho.
O balé
afro do grupo Majé Molé, os afoxés e o candomblé baianos são a próxima
parada desta viagem musical.
Da Bahia,
através da cantora Margareth Menezes, vem uma das definições do filme: a
mistura é a marca da música e do país, um enorme caldeirão étnico e
rítmico, que Kaurismaki capta nos sons e nos rostos de pessoas nas ruas
por onde passa. Uma diversidade que se mostra certamente fascinante para
ele, um finlandês vindo de um país frio e monocromático em termos
raciais.
Aportando
no Rio de Janeiro, Kaurismaki destaca tanto veteranos como Walter
Alfaiate e a Velha Guarda da Mangueira quanto a revelação, Seu Jorge,
sem esquecer de colocar uma pitada de funk através da presença de Ivo
Meirelles.
Não é um
mapa completo nem definitivo da música brasileira. Tem um indiscutível
olhar estrangeiro, que nem o diretor tenta esconder.
Às vezes,
parece um pouco didático ou tenta ser. Natural, porque se trata de uma
co-produção internacional (entre o Brasil, a Alemanha e a Finlândia) com
visível interesse na colocação do filme em outros mercados.
Mas nem
por isso perde o mérito de registrar uma visão abrangente e amorosa
sobre o país, ao qual Kaurismaki parece apegado de forma sincera.
Curiosidades
* O diretor Mika Kaurismäki vivia no Brasil há 10 anos quando realizou
Moro no Brasil.
* Foram percorridos 4 mil quilômetros durante as filmagens, visitando os
estados de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.
* Propositalmente, “Moro no Brasil” não conta com nenhuma estrela da
música brasileira conhecida internacionalmente.
* As músicas inseridas em “Moro no Brasil” têm suas letras traduzidas
para o inglês em legendas, como forma de atrair o público internacional.
* Exibido na mostra Panorama, do Festival do Rio 2003.
Ficha Técnica:
Moro no
Brasil
(Moro no Brasil / Sound of Brazil, Alemanha, Brasil, Finlândia, 2002)
Elenco: Walter Alfaiate, Velha Guarda da Mangueira, Seu Jorge, Margareth
Menezes.
Roteiristas: Mika Kaurismäki e George Moura.
Diretor: Mika Kaurismäki.
Gênero: Documentário.
Duração: 105 min.
Produtoras: Magnatel TV GmbH, Marianna
Films, Lichtblick Film- und Fernsehproduktion, TV Cultura, Yleisradio (YLE). |