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CRÍTICA DE CINEMA


Fahrenheit 11 de Setembro
(Fahrenheit 9/11, EUA, 2004)

Jorge Tadeu da Silva

É notável como Michael Moore propõe todas as perguntas que ninguém nunca teve coragem de fazer sobre o que de fato colocou os Estados Unidos no alvo do terrorismo, antes e depois do fatídico 11 de setembro. Esbarrando no limite entre o horror e o sarcasmo, Moore começa “Fahrenheit 11 de Setembro” discutindo a legitimidade da eleição de George W. Bush e, a partir disso e de forma impiedosa, indica todas as possíveis conexões entre o presidente americano e os terroristas sauditas em geral, e a família Bin Laden, em particular.

Já na abertura, Moore mostra em tom de conto de fadas como George W. Bush venceu as eleições presidenciais em meio a um escândalo na apuração dos votos no estado da Flórida, cujo governador, coincidentemente, era seu irmão. A partir dessa premissa, o filme nos lembra que o candidato Bush era filho de um ex-presidente (benefício como o de um cartão de crédito que abre todas as portas), conta como Bush simplesmente torrou milhares de dólares em negócios de petróleo no Texas nos anos 1970 e explica que, mesmo sendo um empresário medíocre, sempre tinha muito dinheiro à disposição (dinheiro este do pai e principalmente dos sauditas, onde nasceu a ligação ente os Bush e os Bin Laden).

Moore quer saber por que o governo americano, mesmo com todos os indícios de que Osama Bin Laden havia atirado os aviões no World Trade Center e no Pentágono, demorou quase dois meses para atacar o Afeganistão (tempo mais que suficiente para qualquer suspeito se esconder numa caverna). O cineasta questiona por que motivo vários sauditas, incluindo familiares de Osama Bin Laden, foram deportados dos EUA e levados para a Arábia Saudita sãos e salvos. E isso poucos dias depois do 11 de setembro, sem que ao menos o FBI fizesse qualquer investigação ou interrogatório. E finalmente, como é que diante de tantas outras evidências Bush decidiu que o melhor era bombardear e invadir o Iraque – que como é relatado por Michael Moore, tratava-se de um país que jamais atacou os Estados Unidos ou sequer matou um cidadão americano.

A polêmica em torno de “Fahrenheit 11 de Setembro” nasce justamente da combinação desses e dos muitos fatos apresentados. Todos perturbadores, é verdade.

Ocorre que essa era mesmo a intenção de “Fahrenheit 11 de Setembro”, cujo roteiro foi preparado de forma a não perder uma única oportunidade para destruir o presidente. Que é mostrado como um imbecil, sem articulação e sem visão política. É dramática por exemplo a sequência em que Bush está numa escola infantil na Flórida justamente no dia 11 de setembro de 2001. Enquanto vemos o presidente sorrindo para as crianças, um assessor chega ao ouvido dele para informar que as torres gêmeas foram atingidas por aviões. A América estava sob ataque. Bush fica atônito e permanece calado, olhando para o nada durante longos sete minutos sem saber o que fazer.

Michael Moore pode sim ter se utilizado de um tom sofismável, mas prova seu talento argumentativo em outras tantas passagens.

Por tudo isso, “Fahrenheit 11 de Setembro” é um filme tão incrível, absurdamente tão perturbador, que ao longo da projeção ficamos sem saber o que nos perguntar diante da saraivada de informações. Isso justamente porque Michael Moore se encarrega de lançar todas as questões e, mais cômodo ainda, nos oferece as respostas de mão beijada. Ainda que algumas delas sejam discutíveis.

 

Ficha Técnica:

Fahrenheit 11 de Setembro

(Fahrenheit 9/11, EUA, 2004)

Elenco: Michael Moore, Ben Affleck, John Ashcroft, Tom Brokaw, Barbara Bush, George Bush, George W. Bush, Laura Bush.

Diretor e roteirista: Michael Moore

Gênero: documentário

Duração: 122 min

Distribuidora: Europa

Produtoras: Miramax Films, Dog Eat Dog Films, Fellowship Adventure Group, Lions Gate Films 

 

Setembro / 2004
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